Por: Paulo Oliveira
“Zaqueu dá-te pressa em descer, porquanto preciso que me hospedes hoje em tua casa.” (Lucas 19:5)
Zaqueu é uma daquelas figuras que, embora aparecendo em uma única citação no Novo Testamento, marca presença em nossa mente, instiga-nos a uma reflexão mais profunda quanto à razão, e ao simbolismo de sua inclusão nos textos do Evangelho.
Ao buscarmos maiores referências sobre sua pessoa temos, o relato feito no Evangelho de Lucas (19-1:10), no qual Zaqueu, responsável pela coleta de impostos na cidade de Jericó, era o chefe dos publicanos (cobradores de impostos) e muito rico. Era também rejeitado pelas pessoas “de bem”, por causa de sua profissão e modo de vida.
Sendo Jericó uma cidade importante na qual era produzido e exportado o bálsamo, substância extraída de árvores da região, muito cobiçado por ter múltiplas utilidades, servindo desde um excelente unguento para curar feridas até para perfumar pessoas e locais. Pequenas amostras dessa substância eram consideradas como verdadeiros tesouros, gerando muitos impostos.
Percebe-se, portanto, a causa da fortuna de Zaqueu, sendo que alguns afirmavam ter ele desviado dinheiro público para aplicação em sua riqueza pessoal.
Outra informação histórica sobre Zaqueu é a deixada por Clemente de Alexandria, em seu livro Stromata, onde afirma ter sido Zaqueu apelidado de “Matias”, pelos apóstolos, e tomado o lugar de Judas Iscariotes após a ascensão de Jesus.
Pois bem, esse era o homem que buscava Jesus ansiosamente, naquela tarde que ficaria marcada para sempre em sua memória.
Como nos relata o evangelista Lucas, Zaqueu que era um homem de baixa estatura física, não conseguiria ver Jesus em decorrência da grande quantidade de pessoas que seguia o Mestre. Assim, para que pudesse ser visto, ele subiu em um Sicômoro e ficou esperando pela passagem de Jesus.
Ao aproximar-se da árvore em que estava o velho publicano, Jesus olhou-lhe diretamente nos olhos e disse: “Zaqueu dá-te pressa em descer, porquanto preciso que me hospedes hoje em tua casa”. Atônito e jubiloso, Zaqueu apressou-se, desceu da árvore em que se alojara e conduziu Jesus à sua casa, onde o recebeu com alegria por estar hospedando o Mestre Jesus.
Imaginemos que, havia ali centenas de homens e mulheres que lutavam um contra o outro por um lugar especial perto de Jesus.
Cada um sentindo-se com mais direito de ficar perto de Jesus e de obter-lhe as bênçãos desejadas. No entanto, de repente, o Mestre olha para quem não esperava nada, para quem se sentia indigno, insignificante, perdido entre os galhos de uma figueira e o chama pelo nome: “Zaqueu!”.
Esta é a maneira pela qual Jesus age. Para Ele não há multidões, apenas pessoas, independentemente de cor, classe social, designação religiosa etc. Ele chora com sua dor e se alegra com sua alegria, da mesma maneira como faz com todos os filhos de Deus que habitam este planeta, física ou espiritualmente.
Ele sabe seu nome, onde você mora, conhece suas ansiedades, sabe que você pode estar tentando se aproximar d´Ele, no entanto, considera-se pouco merecedor para receber Seu olhar e Seu carinho, de irmão mais velho. Saiba, porém, que Ele espera que, a exemplo de Zaqueu, sejamos decididos e determinados, pois mesmo diante de uma “multidão de dificuldades” e possuindo, ainda, “baixa estatura moral”, que caracteriza a grande maioria dos Espíritos ligados a este planeta, Ele nos chama pelo nosso nome, e nos faz o convite permanente: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”
Ao escutar as palavras de Jesus, dizendo que queria ser hospedado em sua casa, Zaqueu não titubeou. Desceu rapidamente da árvore e conduziu Jesus para dentro de sua habitação. Simbolicamente, podemos utilizar esta parte da história de Zaqueu como uma metáfora para nossa reflexão.
Jesus viu a fé no coração de Zaqueu. Muitos não gostaram do que viram, pois, para os que o conheciam, era um ladrão. Mas, para o Mestre, que conhece a todos nós por dentro, ele era apenas um homem arrependido, decidido a mudar. E, por essa razão, conseguiu o tão desejado encontro.
Vamos imaginar que Jesus aparecesse hoje, exatamente agora, e nos dissesse: “Quero me hospedar em sua casa”, o que faríamos?
Certamente, diante de fato tão impactante, talvez, ficássemos sem ação. A questão, no entanto, é que Jesus nos pede isso a cada minuto. Ele está pedindo para que o hospedemos em nossos corações, transformando-nos, cada um de nós, em sua “hospedaria”. O Mestre quer habitar em cada um de nós, através de seus ensinamentos que Ele nos solicita a prática diária.
Estamos realmente querendo hospedar Jesus? Queremos ser os novos Zaqueus da atualidade? Será que realmente estamos preparados para abrir mão da “metade” de nossas preocupações com a posse material, para dar espaço para a vivência com Jesus?
É no buscar a própria transformação, pela vivência diária do Evangelho que nos aproximamos do Mestre, que, certamente, nos dirá: “Desce da árvore das ilusões, e busca o Reino de Deus que está em teu coração, e lá Eu habitarei”.
Para encerrar estas reflexões, gostaríamos de lembrar um dos contos trazidos do mundo espiritual, por Irmão X (Humberto de Campos), através da mediunidade bendita de Chico Xavier, em que relata a situação de um homem que buscava a condição de discípulo, e que em diversos encontros com Jesus, sempre recebia uma frase de estímulo e elevação, provenientes do coração amoroso do Mestre, que, em seguida, partia deixando-o com os próprios pensamentos e deliberações. Porém, ao final desse maravilhoso conto, quando Jesus retorna encontrando o discípulo totalmente renovado, demonstrando alegria, paz, paciência, amor, perdão, e tantos outros sentimentos puros adornados pela mais simples e genuína humildade, diz-nos Humberto de Campos, que “o Senhor, encontrando-o em semelhante estado, estreitou-o nos braço, de coração a coração, proclamando: – Bem-aventurado o servo fiel que busca a divina vontade de nosso Pai! E, desde então, passou a habitar com o discípulo para sempre”.